Paola Kremer
Eu fluía pelas ruas
eu fluía pelas ruas
o pensamento não.
sacana,
apertado,
girava e girava em espiral
como uma escada infinita
que só desce
aqui eu já não vejo as árvores,
elas sempre estiveram ali.
será que o lugar onde eu
sou eu, e não um clone feito dos meus restos,
eco,
fantasma de mim,
é o lugar onde a cidade não existe?
o lugar em que eu sou a cidade,
e por isso não a vejo?
não a vejo como não percebo as minhas mãos
como nunca vou ver os meus olhos
sem algo que os aponte.
quando esvaziei minha bexiga
um vento seco bateu violento.
quando o sol mostrou um par de coisas que são vida,
um vento seco soprou suave
no deserto dentro do meu peito.
desde que abriu um buraco
e mais um
e mais um
e mais um
vento seco entrou e não saiu
de onde não existe sede,
onde canta grita uiva
o oco
do côco
do teco
da tôca
da boca
do peito cheiro doce vira coice
no deserto dentro do meu peito
onde a beleza ri da solidão:
tola loba boba! Há-há-há!
sono e nenhuma sede.
um filme sobre um urso
e a leveza impossível
do vento
seco
no deserto
dentro
do meu peito.
Paola Kremer
Paola nació en 1990 en Porto Alegre, Brasil. Actualmente vive en Rosario donde realiza investigaciones comparativas entre poesía brasilera y argentina a partir de desterritorialización, género y micropolítica como estudiante de la Maestría en Literatura Argentina en la UNR. Admiradora del portuñol salvaje, observa los reflejos de la desterritorialización que se manifiesta cuando quiere en parte de su escritura.
