eu fluía pelas ruas
o pensamento não.
sacana,
apertado,
girava e girava em espiral
como uma escada infinita
que só desce
aqui eu já não vejo as árvores,
elas sempre estiveram ali.
será que o lugar onde eu
sou eu, e não um clone feito dos meus restos,
eco,
fantasma de mim,
é o lugar onde a cidade não existe?
o lugar em que eu sou a cidade,
e por isso não a vejo?
não a vejo como não percebo as minhas mãos
como nunca vou ver os meus olhos
sem algo que os aponte.
quando esvaziei minha bexiga
um vento seco bateu violento.
quando o sol mostrou um par de coisas que são vida,
um vento seco soprou suave
no deserto dentro do meu peito.
desde que abriu um buraco
e mais um
e mais um
e mais um
vento seco entrou e não saiu
de onde não existe sede,
onde canta grita uiva
o oco
do côco
do teco
da tôca
da boca
do peito cheiro doce vira coice
no deserto dentro do meu peito
onde a beleza ri da solidão:
tola loba boba! Há-há-há!
sono e nenhuma sede.
um filme sobre um urso
e a leveza impossível
do vento
seco
no deserto
dentro
do meu peito.